06/10/2015

Razões



Viver é como amar: todas as razões são contra, e a força de todos os instintos é a favor.

(Samuel Butler)


24/09/2015

Prazer carnal




Detenho-me por um momento
Interrompendo meus beijos
Para somente admirar seu corpo
Imagem de garota casta
Virgem, intocada e pura
Mas que agora anela
Mesmo com medo e cautela
Mas já sem pejo
Despe-se da candura
O desejo então atiça
Estremece ao ensejo
Do prazer e da cobiça
Pelos meus carinhos
Olho então
Para seus segredos de menina
Quedo-me contemplando
O fiel guardião encastelado
No vértice de suas coxas
Considerando com prazer
Que a mulher que existe em você
Está ansiosa para se descobrir
E merece ser ensinada
Na arte do amor sensual
Deve ser por mim guiada
Até os extremos do prazer carnal
Não só recebendo
Mas também ofertando
Carícias e afagos sem fim.

- Warmien -

16/09/2015

Garantias





Não há garantias. 
Do ponto de vista do medo, ninguém é forte o suficiente.
 Do ponto de vista do amor, ninguém é necessário.

(Immanuel Kant)






23/08/2015

És dos Céus o Composto Mais Brilhante




Marília, nos teus olhos buliçosos
Os Amores gentis seu facho acendem;
A teus lábios, voando, os ares fendem
Terníssimos desejos sequiosos.

Teus cabelos subtis e luminosos
Mil vistas cegam, mil vontades prendem;
E em arte aos de Minerva se não rendem
Teus alvos, curtos dedos melindrosos.

Reside em teus costumes a candura,
Mora a firmeza no teu peito amante,
A razão com teus risos se mistura.

És dos Céus o composto mais brilhante;
Deram-se as mãos Virtude e Formosura,
Para criar tua alma e teu semblante.

Bocage, in 'Sonetos'


09/08/2015

Desatino





 Não é amor, é sexo
Não é beijo, é gládio entre lábios
Não são dedos e carícias, são armígeros e alfétenas
Não são enamorados corações, são devassos corpos incitativos
E filárgiros em meio à libertinagem...

(Cássio D. Versus)



23/07/2015

Momento



Chegado o momento
em que tudo é tudo
dos teus pés ao ventre
das ancas à nuca
ouve-se a torrente
de um rio confuso
Levanta-se o vento
Comparece a lua
Entre linguas e dentes
este sol nocturno
Nos teus quatro membros
de curvos arbustos
lavra um só incêndio
que se torna muitos
Cadente silêncio
sob o que murmuras
Por fora por dentro
do bosque do púbis
crepitam-me os dedos
tocando alaúde
nas cordas dos nervos
a que te reduzes
Assim o momento
em que tudo é tudo
Mais concretamente
água fogo música



12/06/2015

Nocturno



O desenho redondo do teu seio
Tornava-te mais cálida, mais nua
Quando eu pensava nele...Imaginei-o,
À beira-mar, de noite, havendo lua...

Talvez a espuma, vindo, conseguisse
Ornar-te o busto de uma renda leve
E a lua, ao ver-te nua, descobrisse,
Em ti, a branca irmã que nunca teve...

Pelo que no teu colo há de suspenso,
Te supunham as ondas uma delas...
Todo o teu corpo, iluminado, tenso,
Era um convite lúcido às estrelas....

Imaginei-te assim à beira-mar,
Só porque o nosso quarto era tão estreito...
- E, sonolento, deixo-me afogar
No desenho redondo do teu peito...

(David Mourão-Ferreira)


13/05/2015

Ternura



Desvio dos teus ombros o lençol,
que é feito de ternura amarrotada,
da frescura que vem depois do sol,
quando depois do sol não vem mais nada...
   
Olho a roupa no chão: que tempestade!
Há restos de ternura pelo meio,
como vultos perdidos na cidade
onde uma tempestade sobreveio...
   
Começas a vestir-te, lentamente,
e é ternura também que vou vestindo,
para enfrentar lá fora aquela gente
que da nossa ternura anda sorrindo...
   
Mas ninguém sonha a pressa com que nós
a despimos assim que estamos sós!

David Mourão-Ferreira, in
"Obra Poética"



02/05/2015

Dourado Sentimento



Dourado Sentimento
Para meus sentimentos
Basta teu coração liberto,
Gostos de afago,
Mansa e macia voz,
Fusão de almas,
Que unidas silenciam...
Faria do vento areia e serpente,
Envolvendo todo corpo carente,
Nas palavras sem carícias,
Devoradoras de sonhos,
Não deixando mais desejos ausentes...
Queimaria no fogo toda erva daninha,
Veneno e ferida,
Purificando em fonte límpida,
A mulher doce , fértil e divina...
Vem comigo transcender montanhas,
Sentir a umidade da terra,
Mesmo se com insegurança e dores,
Ver amanhecer em teu sorriso ,
Os mais formosos poemas e amores...
Respiro a perfeição dos teus contornos,
Ventre, seios e coxas,
Todo perfume e sabores.
Meus olhos sensíveis à beleza,
Buscarão famintos os jardins
Que margeiam tua cintura,
Ousando tocar com mãos ternuras,
Pois o amor é frescor de flores novas,
Doce mel do fruto da figueira ,
Frenético destino e loucura,
É beijar-te noite inteira,
Por não saber te amar de outra maneira...

- William José Carlos Marmonti -

20/04/2015

Penélope



Mais do que um sonho: comoção!
Sinto-me tonto, enternecido,
quando, de noite, as minhas mãos
são o teu único vestido.

E recompões com essa veste,
que eu, sem saber, tinha tecido,
todo o pudor que desfizeste
como uma teia sem sentido;
todo o pudor que desfizeste
a meu pedido.

Mas nesse manto que desfias,
e que depois voltas a pôr,
eu reconheço os melhores dias
do nosso amor.

(David Mourão-Ferreira)


24/03/2015

Delírio



Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci....

- Olavo Bilac -


15/03/2015

Teu desejo




Teu sonho e desejo, Menina
É estar nas minhas mãos
Sem medos e sem receios
Ansiosa, linda e sensual

07/02/2015

Sem que eu pedisse




Sem que eu pedisse, fizeste-me a graça
de magnificar meu membro.
Sem que eu esperasse, ficastes de joelhos
em posição devota.
O que passou não é passado morto.
Para sempre e um dia
o pénis recolhe a piedade osculante de tua
boca.
Hoje não estás nem sei onde estarás,
na total impossibilidade de gesto ou
comunicação.
Não te vejo não te escuto não te aperto
mas tua boca está presente, adorando.
Adorando.
Nunca pensei ter entre as coxas um deus.

- Carlos Drummond de Andrade -

27/01/2015

À noitinha


Tu vens todos os dias à noitinha
e despes-te com tanta lentidão
com tanta lentidão que se adivinha
a forma do teu próprio coração

E quando vais é já noite fechada
não sei se vou ficar se vou sair
não posso ter a alma sossegada
sem saber se amanhã tornas a vir

(David Mourão Ferreira)